Uma nova combinação de drogas mostrou resultados animadores para o tratamento do melanoma. A novidade foi abordada no estudo Relativity-047, um dos destaques do Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, realizado virtualmente de 4 a 8 de junho.
O estudo buscou validar a inibição do checkpoint imunológico LAG-3 como estratégia terapêutica para pacientes com câncer. Trata-se de um estudo randomizado de Fase III para pacientes com melanoma avançado, sem tratamentos prévios, que receberam nivolumabe monodroga ou nivolumabe mais o novo anticorpo monoclonal bloqueador de co-receptor imune que se chama relatlimabe, que é um anti LAG 3. “É o primeiro estudo randomizado com outras combinações no campo de bloqueadores de co-receptores imunes que tem resultados positivos além do Ipi/Nivo”, explica Dr. Rodrigo Munhoz, oncologista clínico e Integrante do Conselho Consultivo do Instituto Melanoma Brasil.
Ganho de sobrevida
Este foi um estudo que atingiu o desfecho primário ao demonstrar um ganho estatisticamente significativo em sobrevida livre de progressão, a favor da combinação de nivolumabe e relatlimabe, versus Ipi/Nivo (Ipilimumab mais nivolumab) monodroga, com razão de risco de 0,75. “Além do ganho de sobrevida livre de progressão, temos um perfil de tolerância aparentemente favorável”, avalia o oncologista.
O estudo tinha um desenho hierárquico em que as análises de sobrevida global e taxa de resposta vão ser realizadas só depois da análise da taxa de sobrevida livre de progressão. “Como o número de eventos não foi atingido, a gente não tem dado de sobrevida global até o momento, nem uma análise descritiva de taxa de resposta. Então o que a gente tem é um estudo que, de fato, talvez ofereça um novo padrão de tratamento, ou mais uma alternativa de tratamento, para pacientes com melanoma avançado”, explica Munhoz.
O oncologista esclarece também que ainda não tem nenhum biomarcador claro para o uso desta combinação, já que nem a expressão de PD-L1 nem a expressão do gene 3 de ativação de linfócitos LAG 3 se associou aos desfechos. Biomarcadores são características medidas objetivamente e avaliadas como indicadores de processo biológico normal, processos patológicos ou respostas farmacológicas à uma intervenção terapêutica.
Destaque
O estudo sobre a combinação de drogas ganhou destaque por dois principais motivos: o primeiro é o ganho estatisticamente significativo em sobrevida livre de progressão, ou seja, os números favoráveis de participantes que ganharam sobrevida sem progressão do melanoma. Além disso, o perfil de tolerância da combinação é maior do que a alternativa atual. “Numa comparação indireta, aparentemente essa combinação de nivolumabe e relatlimabe teve uma incidência de eventos adversos graves e uma taxa de descontinuação por toxicidade inferior a combinação de Ipi/Nivo, que é o padrão atual”, explica Munhoz.
De acordo com o médico, o calcanhar-de-aquiles do estudo é uma certa imaturidade dos dados e a falta de dados de sobrevida; e no braço comparador, o uso de agente anti PD-1 monodroga. Contudo, o estudo é relevante porque deve abrir caminho para a aprovação antecipada pelo FDA nos próximos meses. Não há ainda o horizonte de incorporação deste protocolo no Brasil, mas é uma alternativa animadora que eventualmente chegará aqui.