Neste último “Eu Senti na Pele” de 2017, trazemos a história da Mariana Côrtes, que há três anos trata um melanoma e participa ativamente do Grupo de Apoio e Acolhimento do Instituto Melanoma Brasil. Que a força e a perseverança dela sejam uma inspiração para o ano-novo!
“Até receber o diagnóstico de melanoma, conhecia a doença apenas vagamente. Me julgava fora dos grupos de risco. Minha pele é clara, mas nunca exagerei no sol. Vivo em Nova Friburgo, cidade fluminense de clima frio. Em meus 29 anos, fui à praia umas três vezes, se tanto.
Há muito tempo tenho uma pinta no braço direito, bem visível, que jamais trouxe problemas. Quando fiquei grávida, sete anos atrás, notei que começou a mudar de tamanho. Meu irmão achou estranho, me aconselhou insistentemente a procurar um médico. Como não me incomodava, ignorei os apelos. No fim de 2014, no entanto, a pinta ficou mais escura, começou a doer e sangrar. Fiquei alarmada.
Estava difícil conseguir consulta pelo SUS, então aproveitei que era época da Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer da Pele, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Compareci a um posto de atendimento gratuito na minha cidade. A pinta sangrava tanto que precisei fazer um curativo. Logo que viu a lesão, a médica interrompeu todas as atividades para conversar com calma. Fiquei sabendo que tinha uma doença potencialmente fatal, em estágio avançado.
Entrei em choque com a notícia, mas não me deixei paralisar pelo medo. Corri para a internet em busca de informações. Foi assim, aliás, que conheci o Instituto Melanoma Brasil. Adquiri o hábito da pesquisa e não parei mais. Fazer isso e interagir com o grupo de acolhimento me instigou a ser uma paciente proativa, que não aceita negativas passivamente, que vai atrás de possibilidades. Tenho fama de chata e perguntadeira, mas nem ligo. Conhecimento é poder, te ajuda a aproveitar cada chance disponível. Faço isso por mim e pela Luize Marrie, minha filha, que na época tinha três anos e hoje tem sete. Ela estava comigo quando recebi o diagnóstico e se assustou, perguntou se eu ia morrer. Expliquei que estava doente e ia me tratar, mas que ia ficar tudo bem.
Além da avaliação inicial, a campanha da SBD encaminha os casos diagnosticados para tratamento. Assim, pude ser atendida com rapidez em um hospital público local. A equipe deste hospital se mobilizou para me encaminhar ao Instituto Nacional de Câncer (INCA), um centro de referência, onde fui acompanhada pelos anos seguintes.
Desde então, vivo a rotina de um tratamento oncológico. Precisei fazer uma grande cirurgia no braço direito para remover o tumor primário, o que me impediu de continuar trabalhando como costureira. Depois, me submeti a mais sete procedimentos cirúrgicos, para remover metástases em diferentes regiões. Graças às minhas andanças pela internet, descobri os protocolos de pesquisa e consegui ser incluída em um. No ano passado, cheguei a ser considerada uma paciente em remissão. Porém, após passar muito mal em uma viagem, soube que havia 15 metástases no peritônio, e que a partir dali teria alguns meses de tratamento paliativo pela frente.
Naquele momento, a atitude proativa que aprendi a desenvolver no grupo fez toda a diferença. Não podia aceitar aquilo sem questionar. Insisti para que a médica me encaixasse em um protocolo ou me ajudasse a buscar outra alternativa. Não iria aceitar “não” como resposta. Todos os dias, telefonava perguntando se havia novidades, sem medo de parecer inconveniente. Depois de muito procurar, a doutora conseguiu me incluir em um protocolo de pesquisa de terapia-alvo, realizado em uma instituição particular de renome. Até então, eu só tinha participado de protocolos cirúrgicos.
Os resultados superaram minhas expectativas. Em poucos meses, as metástases se reduziram de 15 para cinco. Me sinto cada vez melhor. Não sei se realizarei o sonho de me ver livre da doença, mas com certeza prolongarei bastante o tempo para passar com minha filha. É isso que importa.
A Luize Marrie é minha maior fonte de energia. Estava presente quando recebi o diagnóstico e me acompanha em todos os momentos. Procuro deixá-la a par de tudo que está acontecendo, usando informações adequadas à sua possibilidade de compreensão. Ela me surpreende com sua inteligência e sensibilidade. Assim como eu, toma muito cuidado com o sol e faz questão de me lembrar quando preciso reaplicar o protetor. Ela tem algumas pintas e sempre se autoexamina para ver se não há mudanças de cor, formato ou tamanho. Eu também mantenho o olho vivo, nas minhas pintas, nas dela e nas dos outros.
Ao longo desse período, interagir com o pessoal do Melanoma Brasil e outros grupos que conheci me fez bem demais. Cheguei a criar minha própria comunidade no WhatsApp. É até difícil descrever o tipo de cumplicidade que estabelecemos. Quando alguém traz uma notícia boa, a alegria e esperança contagiam todo mundo. Quando alguém compartilha um momento ruim, o grupo realmente traz conforto e acolhimento. Somente um paciente consegue entender como o outro está se sentindo. Com a maioria eu converso pelo computador, mas alguns tive o prazer de conhecer pessoalmente.
E assim vou vivendo, celebrando as conquistas e enfrentando os desafios, sem perder a fé na vida. Deus é minha maior força e minha filha minha maior inspiração, todos os dias renova meu ânimo para seguir em frente. Teremos muitas noites de Ano-Novo para comemorar juntas, se Deus quiser.”