A psicóloga Larissa Reis, 31 anos, imaginava que, por ter a pele negra e se expor pouco ao sol, estivesse naturalmente protegida contra o melanoma. Em 2013, enquanto tratava uma ferida persistente no couro cabeludo, se surpreendeu ao receber o diagnóstico do câncer de pele mais perigoso. Acompanhe o seu emocionante relato:
“Recebi meu primeiro diagnóstico de melanoma em 2013, quando terminava o meu Trabalho de Conclusão de Curso. Surgiu uma verruga no couro cabeludo e, como tenho bastante cabelo, demorei para perceber. Acabei retirando a ‘verruga’ alguns meses depois, mas não levei para biópsia. A lesão cresceu novamente, e junto a ela surgiu uma mancha preta. Tive também alguns caroços no pescoço. Cheguei a pensar que era inflamação, mas a biópsia constatou o melanoma.
Receber a notícia me tirou o chão e trouxe alguns questionamentos. Como eu poderia ter logo o câncer de pele mais grave de todos, se não me exponho ao sol e tenho pele negra, que oferece proteção extra contra os raios ultravioletas? Pensei que estivesse naturalmente protegida, mas não estava.
Descobri então que o melanoma pode se desenvolver em qualquer pessoa, independentemente do tom da pele, e surgir em todas as partes do corpo, inclusive aquelas não expostas ao sol.
Segundo os médicos. não foi possível encontrar o sítio primário da doença. Até hoje não sabemos onde tudo começou. Passei um mês e alguns dias internada, recebendo Interferon. Não tive muitos efeitos colaterais, apenas dor de cabeça na primeira dose e uma inflamação no fígado, que levou à suspensão do medicamento por alguns dias.
Ao sair do hospital, continuei a receber medicação subcutânea durante um ano. Quando consultei o médico, estava tudo bem. Retomei minha vida normalmente.
Passaram-se cinco anos. No final de 2018, apareceu um caroço na minha barriga e senti fortes dores na coluna. Cheguei a ir à emergência, onde me falaram que não era nada e prescreveram fisioterapia. Preferi consultar também o oncologista, que diagnosticou uma recidiva do melanoma na barriga e na coluna.
Foi uma luta desta vez, pois precisava receber a medicação Nivolumabe, que não era coberta no meu plano de saúde. Tinha de tomar também o Zometa, para os ossos. Iniciei apenas uma radioterapia paliativa.
Dois meses depois, consegui finalmente os remédios. Tive algumas reações no início, que consegui controlar. Estou recebendo o primeiro ciclo, com medo, mas sempre confiante, com o apoio da minha família e dos poucos amigos que permanecem ao lado nesses momentos.
Viver esse processo me levou a reavaliar minha vida. Passei a valorizar mais minha existência, e a perceber que podemos ser feliz com o pouco que temos. No final das contas, aquilo que parece pouco na verdade significa tudo para nós. E assim vou seguindo.”